terça-feira, 10 de julho de 2012

cheiro de laranjas.


ela estava sentada perto da janela, estava escuro, mas eu podia ver suas lágrimas. chovia uma chuva rasa e serena. ela olhava pela janela com uns olhos furtivos. procurando algo. escondi-me nas sombras. queria observar. queria que ela ficasse. queria que o tempo parasse.
pisquei.
ela não estava lá. junto de suas lagrimas a chuva também se foi. sai do meu esconderijo e olhei pela janela aonde eu pude ver as estrelas no seu escuro. minha garganta secou. o tempo estava seco. senti saudades. queria ela aqui, mais uma vez, comigo.
virei meu rosto e olhei para a sala vazia, sem vida. fechei meus olhos e senti o cheiro de laranjas. como ela sempre cheirava laranjas. a principio eu destetava esse cheiro. laranjas. por que, raios, ela cheirava laranjas? sorri e senti o sal da lágrima. abri os olhos e olhei fundo dentro dos dela. parada na minha frente. olhando para mim. aqueles olhos. tão negros, tão profundos, tão indiferentes. como ela podia ser tão mesquinha? como eu não conseguia parar de pensar nela? ou melhor, por quê? fechei meus olhos. senti a respiração dela contra a minha. senti seu cheiro. laranjas. ainda com os olhos fechados dei dois passos a frente. não senti nada. abri meus olhos e rapidamente andei até a cozinha. água. precisava de água. abri a geladeira, peguei o copo, o enchi e bebi. a cozinha estava escura e virado para o escuro vi com o canto do olho ela encostada à porta. pare de me assombrar! gritei. tateei o balcão da cozinha, mas não parei de encara-la. apoiei o copo. não o soltei. ela olhou para mim e sorriu. um sorriso triste. apertei o copo com força e o atirei nela. ele explodiu contra a parede escura. voou vidro e água. estava escuro e vazio. sorri. tristemente. 

terça-feira, 3 de julho de 2012

it's a motherfucker.

e se eu te perder? e se algo nos acontecer? e se eu não for forte o suficiente? 
eu não nego o que sinto. não posso. não consigo. sim. eu tentei. lutei bravamente contra isso. contra você. contra nós. não posso mais lutar. lutar contra algo que pode ser tão bom, mas me assusta tanto. 
e você... tão calmo, tão tolerante, tão paciente, tão compreensivo. ah, deus, como eu queria te bater. queria que você me odiasse. queria que você me olhasse com desprezo. queria que você fosse indiferente. 
eu cheguei a sonhar com isso, sabia? tive um sonho horrível, no qual, você me desprezava. foi tão ruim. acordei com um aperto tão desesperador no meu coração. fui para sala. você estava acordado. queria tanto seus braços ao meu redor, te ouvir sussurrando que esta tudo bem, sentir sua pele na minha, mas eu não o fiz. eu tinha que ser forte. eu não podia aceitar isso que acontecia dentro de mim. no lugar, eu dei um "bom-dia" meio estranho e voltei para o meu casulo. 
aquela noite. aquele estranha noite. eu a re-vivo dia-após-dia. essa lembrança esta tão gasta. estávamos tão perto. eu queria tanto te sentir dentro de mim. queria tanto que você colocasse sua mão dentro da minha blusa. sentir seu toque. sentir você. saber como é se entregar tão inteiramente a algo tão amedrontador e tão sedutor. eu iria até o fim do mundo. tudo fez sentido e o mundo se calou. era só nos dois. mas eu não pude ir. eu não pude te seguir. 
eu não quero pedir desculpas. acho que já pedi tantas desculpas pela maneira como agi, como te tratei. isso aqui não é um pedido de desculpas. é um relato. sincero. puro. apaixonado. de como você virou meu mundo do avesso. como eu me sinto totalmente perdida e viva ao teu lado. como você conseguiu arruinar todas as músicas do planeta e como você sempre tem a música perfeita para a o momento. eu posto isso com uma singela esperança de que você nunca o lerá. eu sei que é estupido. mas eu preciso por isso em algum lugar e meus cadernos não tem mais espaço. eu não quero dividir essa historia com as minha antigas. quero um novo caderno para começar de novo. com você. eu mesma não posso acreditar no que escrevo. como isso pode ser? acredite que luto e lutei para não sentir isso, mas eu não quero lutar mais. eu cansei. eu quero isso. tudo. tenho essa certeza dentro de mim. 
relendo esse texto vejo que não faz nenhum sentido. isso não faz nenhum sentido. enquanto escrevo, sussurro para mim mesma "eu não acredito no nisso. não existe tal coisa. não se renda.". será eternamente assim. dois lados brigando. dois, três, quatro lados brigando. sempre brigando. e estou sempre perdendo. 
eu o quero. eu estou perdendo a noção do perigo. não consigo parar de pensar em você. por favor, entenda, o seu amor me faz enlouquecer. 

domingo, 27 de maio de 2012

maldito estalo.

pauso a música, pois ouço um barulho estranho vindo lá de fora. meu coração bate, mas eu mantenho a calma. tenho que pensar racionalmente. levanto devagar e caminho suavemente a cozinha. meu cérebro pregando um peça. mais uma. abro a geladeira e pego a caixa de suco. eu o tomo na boca. sinto aquele plastico industrial nos lábios enquanto um suco acido e doce corre pela minha língua. limpo a boca com a manga da camiseta e apoio a testa no meu braço. sinto o suor nos meus pelinhos do braço e suspiro. 
"merda." 
não queria lembrar de nada. queria esquecer cada segundo naquele dia. foi uma sequencia tão cruel de passagens arrepiantes que senti pena. não valeu a pena a nunca haverá de valer a pena. pena. a pena. essa peninha tão preciso que escapa dos nossos dedos escorregadios e ambiciosos. 
"merda."
queria afundar. mergulhar um mar de petróleo, morrer, afogada e corroída. aquela massa preta e flamejante que mata a vida ao redor dela. um doença. uma praga. algo que passa e destrói tudo oque passa. pistache. uma nuvem molhada e grudenta. negra. tão profundamente obscuro. não falei mais nada. não tinha mais nada a ser dito. nada mudaria oque aconteceu. tantas memorias. tantas duvidas. tantas indagações. minha visão embaralhou. apoiei na porta, mas cai. meu joelhos levaram o primeiro baque e tentei proteger meu rosto. não consegui. cai lentamente. senti como se o tempo tivesse parado. doeu.  

sábado, 5 de maio de 2012

sonho ruim.

hoje eu sonhei com você. foi bom. mentira. foi horrível. o sonho foi muito real. quando acordei estava com aquela sensação de vazio. é terrível o fato de que você é uma parte preciosa minha. não tenho que te dizer isso. você sabe. sabe até demais. muitas vezes acredito que você se aproveita dessa fraqueza minha. sim, fraqueza. eu fico vulnerável quando se trata de você. uma simples atitude sua muda o meu dia. não sei ficar calada quando falam de você perto mim e sinto ciúmes quando ouço o seu nome sendo pronunciado por outros lábios. idiota. você é idiota, mas eu sou mais. por ouvir atentamente cada palavra sua, me preocupar com você a cada segundo, me perguntar se você se lembra daquelas lembranças boas e se você se importa. não vou disputar você com ninguém. sou muito orgulhosa e muito dissimulada para fingir indiferença. não me leve a mal. sei como isso soa. ressentimento. não, eu não te ressinto. eu te amo. esse é o problema. 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

quinta fileira a esquerda.

estou sentada na quinta fileira a esquerda. 
estou calada, como sempre. 
duas meninas conversam na cadeira a minha frente. uma loira e a outra morena. falam sobre uma festa. alguma coisa relacionada ao fato de uma festa que não tocou muito forró. (não considero forró um tipo de música). 
o ônibus esta quieto com exceção das duas meninas a minha frente e a outras duas atrás de mim. cuja a conversa não consigo entender, mas ouço o balbuciar das bocas que formam palavras desconexas. reparei que sempre na quinta parada entram dois amigos conversando em um tom de voz baixo, mas hoje só entrou um. 
calado. com um certo ar depressivo. 
reparo que ele esta inquieto. noto isso pelo constante movimentos com os pés e a mudança de foco no seu olhar. pegou um livro. esta tentando ler, mas sofre a mesma dificuldade minha. o ônibus esta balançando inconstantemente. minha caligrafia, que antes eu tinha orgulho,se tornou garranchos ilegíveis. 
a menina loira na minha frente tenta abrir a janela, sem se incomodar com a chuva que pode molhar a pessoa atrás dela. no caso, eu. tudo bem, ela fechou de novo. provavelmente por que a chuva ficou mais forte. 
é digno de nota o fato das pessoas não conseguirem conter seus sentimentos e sempre expressa-los pela sua face. creio que elas não notam o tanto que fazem isso. reparei, também, que as pessoas que estão levantadas tendem a se expressar mais. consigo ver com o canto do olho uma senhora fazendo uma cara de nojo. do que será que ela sente tanto nojo?